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Conheça o Festival do Meio-Outono na China

Com suas raízes na agricultura, o Festival do Meio-Outono é o segundo mais importante na cultura chinesa, depois do Ano Novo Chinês. Datando desde a Dinastia Song (960 a 1127 d.C.), a celebração também recebe o nome de Festival da Lua, pois sua origem se respalda nos costumes que os imperadores e agricultores tinham de agradecer a Lua cheia do outono pela boa colheita, dando grandes jantares e festas familiares em forma de adoração para que pudessem ter prosperidade, felicidade e união.

As celebrações ocorrem em um feriado nacional que dura três dias e acontece todo 15º dia do 8º mês do calendário lunar, geralmente caindo entre setembro e outubro no calendário gregoriano – em 2022, ele corresponde ao dia 10 de setembro. É uma data importante e de reunião porque significa estar com a família e partilhar o momento com ela. E quem porventura não consegue se deslocar para o feriado, celebra com amigos e envia de presente para os familiares os famosos mooncakes (bolinhos da lua), iguaria típica do festival com uma variação de recheios que vão do doce (feijões vermelhos, semente de lótus, chá verde, tâmaras) ao salgado (carne de porco).

Créditos: Stock photo

A data é cheia de simbolismos, um deles girando em torno do formato redondo da lua cheia, que para os chineses significa a união das famílias, e está presente desde o formato a mesa em que o jantar é servido até o aspecto circular dos mooncakes. E quanto às tradições, existe a de fazer e acender lanternas de papel, escrevendo nelas tudo aquilo de bom que se é almejado para depois pendurá-las em árvores ou nas casas; algumas pessoas nas regiões rurais do país as soltam em direção ao céu ou em rios em uma espécie de oração para que os desejos se concretizem.

A Lenda da deusa da Lua, Chang’e e o arqueiro Hou Yi

Sem dúvida alguma, o centro das tradições e costumes do festival é a adoração à Lua e esta se conecta diretamente com a mitologia chinesa, com a lenda da deusa da Lua, Chang’e, e sua história de amor eternizada com o arqueiro Hou Yi. As lendas dos dois se misturam e, na verdade, têm origem na lenda dele.

Conta-se que, em um passado distante, existiam 10 sóis e estes se alternavam para que cada um nascesse em um dia diferente. Porém, um dia, os dez decidiram que nasceriam todos de uma vez e isto causou uma seca de proporções jamais vistas – plantações foram destruídas e queimadas, a terra se rachava e o povo sofria. Foi então que o rei decidiu mandar o experiente arqueiro Hou Yi para resolver a situação.

Arco e flecha em mãos, Hou Yi partiu para tentar conversar com os sóis, mas estes não o ouviram, e então ele os flechou um por um. Quando estava prestes a flechar o último, a mãe dos sóis, Xihe, pediu clemência e até o rei admitiu que a Terra precisava de pelo menos um sol, e o arqueiro poupou o último astro de encontrar o mesmo destino que seus irmãos.

Como recompensa por salvar a humanidade do terror e força dos dez sóis, a Hou Yi foram dadas, pela Rainha-Mãe do Oeste, duas pílulas (ou elixires) de imortalidade – uma para si e outra para sua esposa, Chang’e. E é a partir daqui que as lendas começam a divergir e variantes surgem.

Algumas versões dizem que Chang’e tomou as duas pílulas, enquanto Hou Yi estava fora caçando, pois ele tinha se tornado um tirano e ela tinha medo de que as pessoas sofressem para sempre, caso ele se tornasse imortal. Outras dizem que um dos estudantes do arqueiro invadiu a casa enquanto ele não para tentar roubar as pílulas e, em pânico, Chang’e tomou as duas. Há ainda uma terceira versão da lenda que diz que nenhuma das duas hipóteses anteriores aconteceu e que, na verdade, Chang’e se aproveitou da ausência do marido e tomou as duas pílulas por pura avareza e egoísmo.

Não importa a lenda, o efeito das duas pílulas foi tão intenso que ela voou diretamente para o Palácio Lunar, passando direto pela Corte Celestial, onde os deuses viviam, e ficou presa na lua, com nada mais do que o Coelho de Jade para lhe fazer companhia.

Ah, e os mooncakes? A lenda conta que Hou Yi os fazia após Chang’e ascender aos céus porque ele simplesmente sentia muita falta dela.

Menções na cultura popular – O filme “Over the Moon”

Créditos: Netflix

Com a história girando em torno do Festival do Meio-Outono, em 2020, a Netflix lançou um filme em parceria com o estúdio chinês Pearl – “Over the Moon” ou “A Caminho da Lua”, em português brasileiro.

A animação rica em pormenores e com trilha sonora maravilhosa deixa o coração quentinho ao retratar a emocionante jornada da jovem Fei Fei (Cathy Ang), muito apegada à lenda de Chang’e, que, depois de perder a mãe e descobrir que o pai pretende se casar novamente, resolve partir em uma missão para a Lua, a fim de encontrar a deusa (Phillipa Soo) e provar para o pai que o amor eterno existe. Em sua lógica de criança, a menina acredita que se Chang’e pode esperar eternamente por seu amado Hou Yi, seu pai também deve esperar por sua mãe, até que estejam juntos novamente.

O filme, lançado três semanas após o festival, encanta por sua delicadeza ao lidar com o luto do ponto de uma criança, mas sem perder a veracidade, pelos elementos da cultura chinesa que enchem os olhos e envolvem o espectador, desde os detalhes do festival em si (e sua “origem” mitológica) até aqueles da cidade onde a protagonista vive, baseada nas cidades da água da região de Jiangnan.

Algo interessante de se citar também e um detalhe que pode passar despercebido pelo público é a maneira como os roteiristas abordaram a personalidade de Chang’e, visto que ela parece oscilar várias vezes durante o filme e isso a torna mais humana (ela não nasceu uma deusa mas sim, tornou-se uma), abrindo espaço para que a história, desta forma, aborde as diferentes versões da lenda da deusa e o que realmente aconteceu quando ela ascendeu aos céus – vale visar que antes de Fei Fei ir para a lua, há uma discussão entre seus familiares, em especial as tias, que acontece na noite do jantar do Festival do Meio-Outono, sobre as várias versões da lenda e até colocando em questão a própria personalidade da deusa da lua.

No elenco do filme também estão presentes as vozes de John Cho, Sandra Oh, Ken Jeong, Kimiko Glenn, Margaret Cho e Robert G. Chiu – representatividade no seu melhor!

Que tal aproveitar que o feriado já é hoje para comer alguns mooncakes e assistir a esta fofura de filme?

中秋节快乐! Feliz Festival do Meio-Outono!

Fonte: (1), (2), (3)

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Ossada de casal enterrados se abraçando é encontrada no Norte da China

Foram descobertos no Norte da China, mais precisamente na cidade de Datong, província de Shanxi, dois esqueletos de 1.500 anos enterrados juntos, envoltos em um “abraço eterno”.

Enquanto escavavam mais de 600 tumbas em um cemitério local, arqueólogos das Universidade de Jilin e Xiamen descobriram a ossada do casal, que foi sepultado durante a Dinastia Wei do Norte (386 a 534 d.C.). De acordo com os estudos feitos e publicados no International Journal of Osteoarchaeology, os autores da pesquisa escreveram que “a mensagem era clara – marido e mulher deitados juntos enquanto abraçam um ao outro em um amor eterno na vida após a morte”.

Ainda que as circunstâncias em que foram encontrados sejam, de certa forma, lúdicas – um amor que se perpetua mesmo após o fim da vida -, indícios apontam que a forma como a morte do casal aconteceu não segue o mesmo caminho. O laudo dos estudos conduzidos nos ossos mostra que o esqueleto homem, entre 29 e 35 anos, tinha sinais de lesão não curada no braço direito e um dedo cortado, indicando sinais de uma possível morte violenta. No corpo da mulher, entre 35 e 40 anos, não foram encontrados indícios de trauma, o que pode indicar suicídio. A situação sugere que possa ter acontecido após a morte de seu amado, para que pudesse ser enterrada junto a ele.

Os pesquisadores não descartam também a possibilidade de que os dois tenham falecido ao mesmo tempo, talvez por uma doença ou envenenamento.

Quanto a alguma evidência que pudesse indicar o status do casal, no anelar da mulher foi encontrada uma aliança prata simples, cuja falta de gravações e seu material sugerem que os dois eram pessoas comuns, segundo o perito em odontologia Qian Wang, da Texas A&M University.

De acordo com o antropólogo Qun Zhang, da Universidade de Xiamen, este tipo de enterro é o primeiro a ser documentado na China. Ele pode se relacionar ao fato de ter ocorrido quando o Budismo estava ganhando força e sendo disseminado pelo país, e as pessoas estavam começando a ficar mais conectadas com a vida após a morte e o que acontecia nela.


Fonte: (1), (2), (3)
Imagem: International Journal of Osteoarchaeology
Não retirar sem os devidos créditos.

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