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CINEMA DRAMA FILME 🇯🇵 JAPÃO

[Resenha] A Mulher de um Espião

Lançado em 2020 no Japão, A Mulher de um Espião ganhou o prêmio Leão de Prata de Melhor Diretor no Festival de Veneza. Premiado e bem-recebido em vários festivais, o longa de Kiyoshi Kurosawa estreia nos cinemas nacionais no dia 31 de março. Sua pré-estreia aberta ao público ocorreu hoje (25) e se repetirá amanhã (26 de março), às 20h no CineSesc, em São Paulo. 

Confira trailer (em inglês): 



Confiança é o tema de A Mulher de um Espião

A história se passa em Kobe, Japão, em 1940, período que antecede a Segunda Guerra Mundial. Nesse contexto, os protagonistas da história são Yusako e sua esposa Satoko. E como o título sugere, o enfoque maior é em Satoko, interpretada por Yu Aoi

Vivendo o papel de uma esposa modelo, Satoko é apaixonada e devota ao marido. 

Yusako (interpretado por Issei Takahashi) é um homem rico que trabalha em contato com vários estrangeiros. Assim, vê seu trabalho impactado negativamente quando o Japão assina o Pacto Tripartite, isso porque o Japão tratava com suspeita os estrangeiros que não fossem do Eixo.

Um dia, Yusako e seu sobrinho Fumio (interpretado por Ryota Bando) viajam para a Manchúria e ao retornarem, algo mudou. Ainda que Satoko tente fazer parte dessa mudança se entregando totalmente ao marido, ele exige dela um posicionamento: confiar nele e manter as coisas como estão ou ficar insistindo em um conversa sem sentido. Novamente devota, a esposa decide confiar no marido, ou pelo menos, é o que ela diz.  


E esse é um dos pontos fortes da produção de Kurosawa, que soube trabalhar a questão da manipulação, confiança, justiça e fidelidade. 

Um drama psicológico

Ao se sentir excluída do segredo do marido, Satoko busca a verdade e ela mesma chega a trair Yusako para poder tê-lo ao seu lado. Ao descobrir o motivo da mudança do marido, seus planos e seu senso de justiça, a heroína deixa de ser a mulher que obedece e age para provar seu valor e amor. Assim, ainda que estrague parcialmente os planos do marido, consegue ser vista por ele como alguém que o ama de verdade. 

Eventualmente, Satoko consegue o que quer: a promessa de que Yusako e ela ficarão juntos. Mas será que ele realmente confia nela? Será que tudo o que ele diz é verdade? 

O personagem de Yusako foi construído de forma que apesar de seu tom e palavras soarem verdadeiras, há algo sutil que também traz a desconfiança. 

Justamente por isso, A Mulher de um Espião é uma excelente obra, mesmo com algumas passagens previsíveis, Yusako ainda é um quebra cabeça indecifrável para Satoko. E ela, apesar de tudo, parece não perder a adoração pelo marido.

Impressões sobre A Mulher de um Espião

Assistindo ao filme, vê-se que o conceito de “espião” usado pelo filme é diferente do espião das produções de Hollywood, o que não decepciona, mas faz refletir sobre questões de patriotismo, defesa daquilo que é nacional e o que é certo para o “eu” e para o coletivo. 

Ademais, apesar de todo o mistério sobre o que fez Yusako mudar, se ele é ou não um espião e como ele vai revelar o “segredo”, a história é menos sobre a informação que ele quer trazer ao mundo e mais sobre o jogo psicológico entre o casal. 

Ainda que a produção não agrade a todos, ela traz uma abordagem diferente da maioria dos filmes que se passa durante a Segunda Guerra, tocando na questão ainda tabu dos atos do exército japonês na Guerra Sino-Japonesa, e assim, um japonês que se opõem ao Japão e uma mulher que se sujeita ao seu pior pesadelo por seu marido. 

Satoko é uma personagem simples e complexa ao mesmo tempo: simples porque quer somente uma coisa, mas complexa porque mostra que por trás de sua aparência inocente, há uma mulher sabe que é benquista por outro homem, sabe agir para ser vista pelo marido, se deixou ser taxada de louca, e é, de certo modo, obsessiva. Mesmo com sua complexidade, não conseguiu acompanhar o marido, cujo personagem foi cercado de mistério até o fim. 

Mais informações

A Mulher de um Espião é o primeiro filme de época do diretor Kurosawa. A produção foi co-escrita por Tadashi Nohara e Ryusuke Hamaguchi, indicado ao Oscar por Drive My Car.

Além disso, dois trabalhos de Kurosawa estão disponíveis de forma gratuita no Cine Sesc: O Fim da Viagem, O Começo de Tudo e Creepy, mostrando a presença que o diretor tem conquistado com seus trabalhos recentes. 

Fonte: (1)
Imagens: NEP, Incline, C&I, NHK.
Não retirar sem os devidos créditos.

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